Molinetes
Uma das dúvidas mais comuns quando se começa a pescar com equipamentos, que vão além do caniço, linha, boia, chumbada e anzol é definir qual equipamento irá ser usado nas futuras pescarias.
Num primeiro momento, parece ser uma questão fácil de se responder, mas junto com ela temos outros fatores a ponderar, dentre os quais, custo do equipamento, tipo e/ou tamanho de peixe que se quer pescar, locais de pesca dentre outros.
Começaremos nossa saga com os Molinetes e deixaremos as carretilhas para outra hora.
O Molinete tem seu invento atribuído aos franceses do século XVI e foi citado na obra de Thomas Baker, The art of angling em 1651.
Atualmente temos alguns tipos de molinetes que diferem pouco entre si, externamente, tendo suas diferenças maiores em seus interiores. Porém, mesmo sendo tão comum no Brasil, os molinetes têm uma divisão que não é tão conhecida, onde temos os Spincast Reels, ou molinetes de bobinas (imagem à esquerda) e os Spining Reels ou simplesmente molinetes (imagem da direita).
Os Spincast Reels são mais baratos e mais simples que os molinetes e normalmente são utilizados por quem nunca pescou, pois são de manuseio muito simples pois não requer que seja feita nenhuma ação direta no equipamento, a não ser apertar e soltar um botão para que o equipamento libere e trave o lançamento e/ou recolhimento de linha.
Seu custo baixo traz consigo a desvantagem de ser um equipamento pouco durável, fato esse, imagino, que tenha sido a causa de não ter se popularizado no Brasil.
O seu funcionamento é similar ao do molinete, porém seus lançamentos não são tão longos pois a capa que protege o carretel com linha acaba gerando uma perda de força quando a linha é lançada, ao bater em suas paredes.
Outro fator que vai contra esse tipo de equipamento é que tem uma limitação no uso de iscas mais pesadas.
Os Spining Reels ou os famosos molinetes são equipamentos um pouco mais caros que os anteriores, mas não chega a ser uma diferença tão brutal como o que ocorre entre os molinetes e carretilhas. Porém esse custo maior se dá pela implementação de mais tecnologia e de matérias primas de melhor qualidade e também por ser um equipamento que permite uma fácil manutenção.
Os molinetes são mais utilizados no Brasil por serem mais baratos que as carretilhas, não terem uma manutenção complexa e principalmente por não fazer as famigeradas cabeleiras, que nada mais é que o carretel girando descontroladamente liberando uma grande quantidade de linha que irá se acumular no olhal de saída da carretilha e como não consegue sair, essa linha se enrola novamente no carretel.
Temos também que levar e conta algumas características em relação aos molinetes, as diferenças interiores que mencionei a pouco, a saber:
· Quantidade de rolamentos: Todos os molinetes, por serem máquinas giratórias, tem em seu interior, rolamentos que variam de 1 a 10 (alguns oferecem 15!!!). A quantidade de rolamentos interfere diretamente na facilidade de lançamento e recolhimento de linha, diminuindo o esforço empregado no trabalho de trazer o peixe para perto do pescador.
· Tipo de Carretel: Temos os carretéis para longos lançamentos e grande quantidade de linha, os chamados Long Cast. Temos os carretéis cônicos para facilitar a saída de linha em arremessos longos. Temos os carretéis de Short cast onde o objetivo é a pesca de predadores onde a distância de linha não importa e sim a agilidade e rapidez no trabalho com a isca, da mesma forma que ocorre com carretilhas. No exemplo abaixo vemos dois tipos de carretel para o mesmo modelo de molinete.
· Sistema de Fricção Dianteiro ou Traseiro: Essa função indica onde estará o ajuste de fricção do molinete, se na parte frontal, próximo ao carretel ou na parte traseira do molinete, afastado do carretel e consequentemente, da linha de pesca. Abaixo temos um molinete com fricção dianteira na esquerda e com fricção traseira à direita.
· Drag ou capacidade de fricção: É a quantidade de peso relativo que será aplicada no sistema de recolhimento de linha que irá ser transmitido para a linha quando o peixe estiver puxando a mesma. Essa regulagem pode e deve ser ajustada sempre, evitando a máxima fricção pois a chance de rompimento de linha nesse caso é muito grande. Esse ajuste irá ajudar a cansar o peixe para que ele possa ser trazido para perto do pescador.
· Capacidade de recolhimento: Esse valor nada mais é que a relação da transmissão da manivela para o carretel, ou seja, diz ao pescador quantas voltas o carretel irá girar a cada volta completa da manivela, no momento do recolhimento de linha. Quanto maior essa relação, mais rápido e mais forte será o recolhimento de linha.
· Capacidade de Linha do Carretel: Esse dado mostra a quantidade de linha para determinada espessura que será acondicionada no carretel. Informação importante quando da configuração do seu equipamento e tem relação direta com o tipo de pesca pretendida. De nada adianta ter centenas de metros de uma linha fina para a pesca de dourados do mar ou cações ou alguns metros de “corda” para tentar pescar os mesmos peixes.
· E desta capacidade também definimos a Classificação dos Molinetes, a saber:
- Ultra-leve (UL) de ultralight – Linhas de 0,14 a 0,18 milímetros (3 a 5 libras);
- Leve (L) de light – Linhas de 0,18 a 0,28 milímetros (5 a 12 libras);
- Médio (M) de medium – Linhas de 0,28 a 0,37 milímetros (12 a 20 libras);
- Pesado (H) heavy – Acima de 0,37 milímetros (21 a 25 libras);
- Extrapesado (XH) de extra heavy – Acima de 25 libras.
· Materiais utilizados na construção: O material mais comumente utilizado na construção de molinetes é o plástico ABS, que é facilmente moldável, tem uma boa resistência mecânica à impactos, porém perde suas qualidades com o passar do tempo, tornando-se fraco e quebradiço.
Em contrapartida temos a utilização de alumínio, grafite, carbono, kevlar dentre outros materiais compostos na fabricação dos molinetes e demais apetrechos de pesca. Novamente o pescador deve se atentar ao tipo de pesca que irá utilizar o seu equipamento, pois o tipo de material do mesmo irá refletir em maior durabilidade do equipamento, evitará manutenções desnecessárias, sofrerá menos avarias dos elementos naturais do local da pesca, por exemplo, maresia, areia, barro, poeira etc.
Vamos agora nos entreter com as partes que compõem um molinete, que são:
1. Manivela de tração – Responsável por tracionar a linha, recolhendo-a através de giros realizados pelo pescador. Essa manivela pode ser trocada de lado, soltando-se o parafuso na extremidade oposta à manivela, retirando a mesma e recolocando-a no outro lado e depois recolocando o parafuso na posição. 2. Alça de Distribuição de Linha – Ela guia a linha no momento de ser enrolada ao carretel, distribuindo por igual sobre o mesmo. No momento do lançamento da isca deve-se levantar a alça para que a linha esteja totalmente liberada para sair do carretel. Após lançada a isca, retorna-se a alça para a posição de recolhimento e deixa-se a linha esticada.
3. Carretel – Local onde a linha será enrolada e desenrolada durante sua vida conjugal com o molinete. É de real importância realizarmos um bom nó prendendo a linha ao carretel para não perdermos tudo quando um peixe seja fisgado e necessite de toda a sua extensão de linha. De lá, a linha só sairá quando do desejo do pescador por outra linha ou por desejo do peixe, ao cortar a linha durante uma peleja. Normalmente tem, em seu interior um sistema de geração de inveja que quando acionado, emite um som de sino ou repique indicando que existe um peixe fisgado na sua linha o que causa uma inveja “felomenal” nos pescadores próximos.
4. Botão de ajuste de tração e de remoção de carretel – Também conhecido como fricção ou ajuste de fricção, este botão pode estar na frente, junto ao carretel, onde se totalmente desrosqueado irá liberar o carretel e dar acesso aos pontos de lubrificação interior do molinete, ou na parte traseira do equipamento, conforme dissemos um pouco acima.
Esse botão é de crucial importância pois regula o quanto de peso a linha irá transmitir para o peixe, ou seja, quanto o peixe irá ter que arrastar durante sua fuga. Um erro muito comum ao iniciarmos nossas pescarias com molinete é deixar esse botão totalmente apertado, fazendo que, normalmente, com peixes grandes, a linha rompa e/ou a engrenagem do molinete seja destruída ou até mesmo a base do molinete se quebre.
Deixe sempre uma carga inicial de mais ou menos 1kgf para começar a pescaria e durante a briga com o baita, vá colocando mais peso na linha. Para deixar essa carga inicial, monte o molinete na vara, estique a linha com a mão e afaste-a gentilmente do molinete. Se ela sair com facilidade aumente a fricção até que você sinta que essa linha tenha que ser puxada com uma força semelhante a se puxar um saco de 1kg de açúcar, por exemplo. Se você for diabético, não use açúcar, use sal e se for hipertenso, melhor usar um saco de 1kg de chumbada que o efeito será o mesmo.....
5. Chave de liberação de linha – Situada na parte de trás e inferior do molinete, essa chave libera o carretel para girar tanto para recolher quanto para liberar a linha. Devemos ficar atentos em deixar sempre essa chave na posição travada, onde o carretel só gira para recolher a linha, evitando que o peixe fisgado leve toda a sua linha até o fim e caso ela não esteja amarrada ao carretel, o alarme da inveja jamais tocará e você só irá se atentar quando for trocar a isca e ver que a linha se foi.
6. Suporte de fixação à vara – Base ou haste que é presa à vara através da rosca de fixação do suporte, esse também conhecido internacionalmente como Reel Seat. A atenção a esse componente está relacionada diretamente ao ajuste da tração pois, se estiver travado o molinete, um tranco de um peixe grande pode quebrar esta haste.
Depois desta apresentação, podemos elencar os prós e contras dos molinetes, algumas vezes em relação às carretilhas ou até mesmo em relação ao tipo de pesca que seria utilizado.
Prós:
- Menor custo – Nesse tópico estamos relacionando os molinetes em relação as carretilhas enquanto tivermos falando de pescarias de peixes médios, pois se formos considerar equipamentos mais pesados essa razão pode até se inverter.
-Manutenção mais simples em relação às carretilhas.
-Maior capacidade de linha dependendo do modelo de molinete escolhido.
-Possibilidade de ter mais de um carretel com diferentes linhas. Alguns modelos já vêm com dois carretéis.
-Quase impossibilidade de se fazer cabeleira na linha. Tem sempre um artista que consegue.
-Possibilidade de arremessos mais longos, porém existem outros fatores que podem tirar essa vantagem, porém iremos desconsiderá-los momentaneamente.
Contras:
-Falta de precisão nos arremessos.
-Torção da linha durante os arremessos. Aqui vale uma dica, se estiver usando linhas multifilamento no molinete, depois de terminada a pescaria, se possível for, retirar anzol, boia, chumbada, isca artificial e soltar a quantidade de linha utilizada durante a pescaria, sem peso algum, na correnteza para que ela se destorça.
-Somente um ajuste de fricção e a opção de se travar totalmente o freio, em relação as carretilhas.
Para finalizarmos essa missão, vale a pena reforçar que toda e qualquer atividade, inclusive a pescaria requer atenção, um certo planejamento, uma boa dose de conhecimento, sorte e constante aprendizado.
E no caso dos nossos amados molinetes, antes de pegar o primeiro molinete que aparecer, temos que prestar a atenção em pequenos detalhes que muitas vezes sequer sabemos que existem, planejarmos onde iremos usar o equipamento e quais peixes queremos capturar e com base nessas informações escolhermos o equipamento adequado para que nossa pescaria seja prazerosa e eficiente. Boas pescas!!! Sempre!!!